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Caminho de Transição do Brasil | Mãe Natureza, Pai Sustento e um Renascimento para a Agricultura

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“Mãe Natureza, Pai Sustento e um Renascimento para a Agricultura”

Junho de 2024

Por Carlos Agnes, SYSTEMIQ

No ano passado, tive o privilégio de visitar um grupo de agricultores regenerativos no sul da Espanha – uma região com uma longa história de agricultura e pastoreio, mas desafiada por um clima quente, secas recorrentes e despovoamento rural.

As fazendas eram todas diferentes, mas um ponto em comum era a inspiração e o impulso dos agricultores para encontrar uma nova maneira de produzir alimentos frente àqueles desafios.

Em uma região com uma população em declínio, essa inspiração pode estar em falta. Perguntei a uma agricultora: por que você fez a mudança para a agricultura regenerativa? Se você não pudesse obter um prêmio por seus produtos, você voltaria a cultivar como fazia antes? “Não”, disse ela, “mas se fosse mais claro que poderíamos de alguma forma ganhar mais do que antes, não precisaríamos de tanto convencimento para começar”.

Este é um desafio central dos sistemas alimentares regenerativos. Muitos dos produtores com quem conversei sabe que opera em um sistema que tornou os alimentos baratos à custa da saúde do solo e da resiliência das lavouras e dos animais. Mas essa consciência nem sempre leva à ação – especialmente quando os benefícios econômicos da mudança nas fazendas, que já enfrentam uma situação financeira delicada, não são claros.

Muitos dos agricultores sente-se sem saída. Eles não podem se dar ao luxo de arriscar mudanças que podem não compensar.

Assegurar os meios de subsistência dos agricultores é, portanto, crucial para o sucesso de qualquer transição que procure restaurar os sistemas naturais.

Então, a questão é: como a lucratividade agrícola seria afetada se todos os agricultores que trabalham na mesma região adotassem coletivamente abordagens regenerativas, e quais seriam os motores dessa mudança?
Para abordar essas questões, o Regen10 mostrará uma série de caminhos de transição nas próximas semanas, abrangendo diferentes regiões e produtos agrícolas.

Esses caminhos exploram os resultados potenciais da mudança de práticas agrícolas convencionais para práticas agrícolas regenerativas em cinco regiões. Fundamental para esse processo é entender a economia da transição; estimar quanto custaria aos agricultores fazer essa mudança e o que eles poderiam ganhar com isso; e determinar os potenciais benefícios ou perdas para o território agrícola ao longo de uma década. Além disso, a série fornecerá perspectivas qualitativas sobre os impactos ambientais e sociais decorrentes dessa mudança.

Vamos analisar as seguintes regiões e seus produtos:
Cidade de Querência, MT, Brasil

Começamos na cidade de Querência, onde grandes fazendas de soja e gado convivem com territórios indígenas ancestrais na fronteira amazônica, levando a dinâmicas agrícolas delicadas. Assim como outras cidades no Mato Grosso, Querência lida com desafios ambientais, econômicos e sociais interconectados:

  • A monocultura e a pecuária extensiva dominam, resultando em pastagens degradadas e déficits de reserva legal.
  • Pressões econômicas, incluindo novas restrições internacionais sobre o desmatamento e a frágil lucratividade do gado, lançam sombras sobre a prosperidade da região.
  • Tensões sociais persistem em torno dos territórios indígenas e do rápido crescimento populacional puxado pela agricultura.

A alternativa que modelamos para a paisagem agrícola de Querência centra-se numa maior integração entre os sistemas de lavoura, pecuária e floresta.

Nossa abordagem não é prescritiva. Ela busca encontrar um equilíbrio possível entre ambição regenerativa e viabilidade de implementação no contexto local, e pode ser aperfeiçoada ao longo do tempo à medida que práticas regenerativas se tornam familiares e seus benefícios visíveis.

Sistemas integrados de pecuária e silvicultura poderiam aumentar a produtividade do gado, diversificar a renda com a produção de madeira e reduzir a pressão por novas terras para pasto. A integração lavoura-pecuária, ou “sistema boi safrinha”, que usa cultivo de gramíneas para alimento do gado em consorcio com a lavoura de grãos pode aumentar o peso dos animais no período seco e melhorar a saúde do solo, enquanto a restauração de reservas de floresta legal fomenta a biodiversidade e o cumprimento da legislação do Código Florestal Brasileiro.

Em termos econômicos, a transição modelada mostra-se promissora:

  • Os sistemas integrados de lavoura, pecuária e floresta poderiam aumentar o rendimento líquido anual do conjunto de agricultores em 34%, em média.
  • Ao longo de uma década, os investimentos rendem um valor presente líquido de US$ 471 por hectare para a região.A transição é viável financeiramente, mesmo incluindo a restauração de reservas florestais em áreas agrícolas.

Redução nos custos de insumos, produtividade resiliente das culturas, novas receitas de madeira e aumento da produtividade do gado são os principais contribuintes para os resultados positivos.

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